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LEONARDO DA VINCI - Biografia

05 de Abril del 2018 a las 12:46:08 0 Leído (703)

Comecemos esta biografia com uma frase sobre Da Vinci: "... e havia naquele engenho tanta graça de Deus e uma demonstração tão terrível, aparelhada com o intelecto e a memória que o serviam, e com o desenho da mão sabia exprimir tão bem seu conceito, que com o raciocínio vencia e com a razão confundia qualquer galhardo engenho".(De "Vida de Leonardo", de G. Vasari.)
No dia 15 de abril do ano de 1452, o velho notário Messer Antônio Da Vinci escrevia no livro, onde era uso assinalar, todos os dias,(um diário) os eventos da família: "Nasceu um neto meu, filho de Ser Piero, e recebeu o nome de Leonardo."
Muitos anos mais tarde, após a morte de Leonardo Da Vinci, ocorrida em 4 de maio do ano de 1519, Giorgio Vasari podia escrever no livro "Vidas dos pintores e dos arquitetos célebres": "Realmente o céu nos manda, às vezes, homens que não representam apenas a humanidade, mas a própria divindade..."
Entre essas duas datas, entre esses dois escritos, está contida a vida maravilhosa do mais multiforme gênio que já teve a humanidade.
Embora fosse filho ilegítimo, nascido de uma certa catarina, criada de estalagem, Leonardo encontrou, na família Da Vinci, amor e consideração. O menino cresceu belo, inteligente,mas meio esquisito. Aprendeu a ler e a escrever com a avó paterna, e com Monna Albiera degli Amadori, que Messer Piero havia desposado, logo apos o nascimento de Leonardo; a seguir, teve ótimos mestres, os quais se encontravam por vezes embaraçados com as agudas perguntas que aquele precoce escolar lhes dirigia. A matemática apaixonava Leonardo tanto quanto o desenho; e sua linguagem, clara e precisa, parecia provir mais de um homem do que de uma criança. Desenhava e escrevia indiferentemente, tanto com a mão direita como com a mão esquerda; mas preferia fazê-lo em sentido oposto ao comumente usado, tanto que, para ler seus escritos, servia-se de um espelho, no qual a página refletida resultava clara e regular. Usaria deste modo para manter secreta ou, pelo menos, difícil a leitura de suas páginas? Talvez sim, se pensarmos quanto foi sempre tão fechada e misteriosa a alma de Leonardo.
Mas, dentro daquele temperamento introvertido, bailavam sonhos imensos e floresciam pensamentos gentis.
A família Da Vinci, nesse ínterim, mudara-se para Florença. Eram os tempos do máximo esplendor artístico para a cidade, na qual os mais excelsos engenhos trabalhavam e criavam obras imortais.
Sem que ninguém soubesse, o adolescente Leonardo modelava, na argila, figuras humanas e animais, que depois tomava como modelo para traçar desenhos repletos de detalhes exatos e minuciosos. Mas não se limitava a isto a secreta atividade de Leonardo. Sobre certos livrinhos encadernados em vaqueta, ele ia fixando estudos e projetos para modelos de alavancas e cabrestantes, para arquitetura de edifícios, para escavações destinadas a canais de irrigação, para mecanismos úteis na arte de tecer.
Um dia, o pai de Leonardo conseguiu apoderar-se de um desenho executado pelo filho, em branco e negro, com a ponta do pincel, e zelosamente ocultado de todos. A Ser Piero aquilo pareceu muito bonito, mas, receando julgá-lo e vê-lo através de seu afeto paterno, levou-o a um dos mais famosos artistas que viviam então em Florença: Andrea di Cione, conhecido com "Il Verrocchio".O resultado foi o jovem Leonardo entrar para a escola de Verrocchio e ali permanecer vários anos, deixando o mestre maravilhado, o mesmo acontecendo com seus colegas, dada a versatilidade com que sabia passar da pintura à escultura e brilhar em ambas. Mas, pintura e escultura não afastavam Leonardo de outras artes nem de outros estudos. Aprendeu música, e compôs graciosos motivos, que cantava, acompanhando a si próprio com a lira e deliciando a quem o ouvisse. Todavia, aquilo que lhe absorvia grande parte do tempo era o estudo da física e da mecânica, nas quais não tinha ninguém por mestre, mas em que se engolfava, atraído por uma irresistível predileção e impelido pela peculiaridade de seu cérebro especulativo e ávido de saber. O mistério dos astros, a virtude das ervas, o voo dos pássaros, toda a manifestação da natureza tentava a atormentava o pensamento do jovem Da Vinci, que, com apenas vinte anos, fora matriculado, na qualidade de pintor, e inscrito no registro da Companhia de Arte de São Lucas, reconhecimento insigne, que o tornava homem emancipado mestre.
Leonardo aproveitou a oportunidade desse reconhecimento para ir viver sozinho. Em casa de seu pai, já se haviam sucedido nada menos que três esposas, que Ser Piero desposara uma por uma, porque a morte parecia dar preferência ás mulheres que com ele se casavam. E tinham surgido nada menos do que dez irmãos e irmãs de Leonardo. "Se você estiver só, tudo será seu", estava escrito num dos canhenhos deixados por Leonardo, entre anotações de máximas e sentenças. Ele desejava viver só para que nada viesse perturbá-lo em seus estudos e pesquisas, que continuavam sem cessar. Leonardo sabia amalgamar arte e ciência em um único amor, em manifestações concordes. Os lagartos, serpentes, gafanhotos e grilos, animais que ele apanhava para estudos, serviram-lhe, certo dia, para pintar uma horrenda cabeça de medusa, com tanto realismo que essa imagem parecia, na verdade, uma infernal criatura viva.
Mas seus estudos, sua vida um tanto singular, certas suas manifestações de incomum sabedoria, atraíam para cima de Leonardo a acusação de feiticeiro e herege. Apesar das maravilhosas pinturas sagradas que saíam de seu pincel, apesar de não existir qualquer ato menos honesto, o artista foi processado. Foi absolvido, mas a amargura derivada da injusta acusação induziu-o a afastar-se de Florença. Leonardo mudou-se para Milão, para junto de Ludovico Sforza, denominado "Il Moro", ao qual ofereceu seus serviços.
A corte dos Sforza superava certamente em esplendor a dos Médicis, que dominavam então Florença, e ali Leonardo encontrou ambiente e recursos adequados a Favorecer o desenvolvimento de sua multiforme e genial atividade. Retratos de fidalgas, a estátua equestre de Francesco Sforza, pai de "Il Moro", máquinas de guerra, alfaias espetaculares e estupefacientes mecanismos para defesa do ducado, sempre exposto a ataques de inimigo. Mas Ludovico, "Il Moro", apreciava, acima de tudo, as invenções de Leonardo, que pudessem garantir aquela defesa.
O artista florentino, todavia, não punha à mostra todos os resultados de seus estudos. Especialmente o desenho de uma máquina, por ele criada, permaneceu em completo segredo. E, sobre o mesmo papel, está escrito, de próprio punho de Leonardo: "Se não torno público meu sistema de caminhar embaixo da água durante muito tempo, sem alimentar-me, é por causa da maldade dos homens, que disso se serviriam para assassinar nas profundidades dos mares, abrindo brechas nos navios e afundando-os com suas tripulações."
O submarino, ideado por Leonardo da Vinci, permaneceu desconhecido, por sua vontade, aos seus contemporâneos, mas pertence a Leonardo o mérito de haver sabido imaginá-lo, num século em que a pobreza dos estudos sobre mecânica e a falta de meios propulsores impediam ainda aos estudiosos até mesmo sonhar com semelhantes possibilidades de navegação.
Mas o intelecto de Leonardo costumava livrar-se por todos os recantos do Universo, num invencível desejo de conhecer tudo. Conhecer o espaço imenso que circunda a terra, vê-lo, transpô-lo, coar... A mais longínqua lembrança permanecia na mente de Leonardo desde sua remota infância, era a de um estranho sonho que tivera. Leonardo sonhara, quando criança, e nuca mais esquecera, com um enorme pássaro que, voando por sobre sua pessoa, batia-lhe repetidamente com a cauda na boca. Agora, que já era homem, percebia naquele sonho como que um presságio do destino, uma ordem para desvendar algo em que a humanidade ainda nem pensava: voo humano! Deveria existir um meio qualquer de imitar as asas que permitem aos pássaros erguer-se do chão e vagar à vontade pelo ar.
Leonardo dedicou-se a estudos meticulosos e pacientes, a cálculos habilíssimos; traçou projetos sobre projetos; idealizou um aparelho no qual o homem, deitado, poderia fornecer a força necessária para erguer-se do solo e dirigir-se; as asas seriam movidas pelos braços e, o leme, pelo pescoço. Sonhos, tentativas, pesquisas secretas, que, porém, não impediam a Leonardo de realizar admiráveis obras artísticas. Na igreja de Santa Maria das Graças, em Milão, ele pintou esse admirável afresco: a "Ultima Ceia". A estátua equestre de Francesco Sforza, obra mastodôntica e soberba, foi por ele executada e posta diante do castelo habitado pelo duque, à espera de ser fundida em bronze, o que, devido à má vontade de "Il Moro", jamais se verificou.
Mas tempos bem duros e tristes se aproximavam! O rei da França, Luiz XII, reivindicou direitos sobre o ducado de Milão, pois ele tinha algumas gotas de sangue lombardo nas veias, oriundas de Valentina Visconti, que desposara um Orleans. E tais direitos ele os quis fazer valer invadindo a Itália á testa de um exército. Em breve, os invasores estavam de posse de Milão, e a cidade sofreu saques e violências de toda sorte. E também a bela estátua de Francesco Sforza, modelada por Leonardo, foi perdida, pois serviu de tiro ao alvo para os soldados gascões. Leonardo refugiou-se, a princípio, em Veneza, depois regressou a Florença, onde se dedicou, ainda, a edificar magníficas residências para os ricos mercadores que lhe encomendavam. Mas esse foi um período de contínuas mudanças e muito breves paradas. Leonardo parecia impulsionado por uma irrequieta inconstância; mas, talvez fosse apenas a precariedade de seu próprio destino, que o incitava a procurar, aqui e acolá, uma estável morada. Naqueles tempos, ele esteve sempre acompanhado pelos seus discípulos prediletos: Salaino, Marco d'Oggiono e Boltraffio, que o seguiam desde Milão. Por encomenda de César Bórgia (o duque Valentino), inspecionou, na qualidade de arquiteto e engenheiro geral, todas as fortalezas de Estado pertencentes àquele príncipe e se viu envolvido na guerra, naquilo, isto é, a que ele chamava "matta bestialitate". Em seguida, foi de novo para Florença, onde, entre outras obras, pintou o retrato de Madonna Lisa del Giocondo, essa pintura admirável, de que Vasari diz que não foi feita de cores, mas sim da própria corne, tal sua impressão de realidade.
Os Médicis foram expulsos do poder de Florença e o magistrado-chefe da República, que lhes sucedeu, incumbiu Leonardo de reproduzir o episódio da batalha de Anghiari, na sala do Conselho Maior no Palácio Vecchio. O soberbo afresco executado por Leonardo acabou, porém, em ruínas, devido ao estuque que devia fixar para sempre as tintas; talvez porque Leonardo quisera manipular, com alguma sua secreta receita, o próprio estuque, ou talvez porque o fogo por baixo não fora suficiente para fixar no mesmo instante o estuque, que acabou caindo por cima da parte baixa da pintura, arruinando-a irremediavelmente.



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