Dança para Segurar o Céu
25 de Febrero del 2009 a las 03:06:14 0 Leído (503)
Certa vez uma visão se apresentou como se fosse inédita para o que até então eu conhecia acerca da natureza. Isto se deu pela generosidade de um índio com quem conversava na ocasião.
Através de sua vivência infinitamente mais integrada à natureza do que a minha, ele me desocultou o óbvio. Assim, olhando por uma janela de uma pequena casa em São Paulo, eu vi as árvores dançando para segurar o Céu.
Eram árvores antigas ali na praçinha, estavam resguardando o pouco do silêncio que chegava do trânsito da avenida que corria apressada. Parecia, no entanto, que a "cidade" estava longe dalí.
Um vento de final de dia soprava leve, arranhando um zum zum de fundo feito música.
Às vezes a folharada se esbarrava mais forte e matracava uma alegria qualquer.
Nada era aparentemente diferente de tudo o que sempre esteve ali, uma praça como tantas outras perdidas pela cidade, mas no entanto, agora havia mais do que percebia antes daquele isntante mágico. Havia claramente uma correspondência entre as coisas que as tornavam agentes de um só propósito.
A realidade espacial pouco importava, estava dissolvida a distância técnica e lógica que distingue o eu e do outro, já não havia sentido em pensar sobre dualidades, bastava uma só verdade para o sentido de ser. Percebi que eu também fazia parte da mesma dança, apenas estava inconsciente disso até o índio me mostrar.
Daí o desocultamento: o aqui tudo era só o lá daquela Dança para segurar o Céu.
Não havia porque não ser aquilo, a visão revelava-se no movimento mudo dos galhos acompanhando o vento que cantava uma música vinda do sublime milagre da existência.
A rua canalizava esse fluxo ventania que o mato da praça amansava, e com isto, o libertava momentaneamente das definições plausíveis, da pressa e das finalidades atmosféricas, mas não o confiscava, integrava-o a um Todo, porém, só por um instante, que logo esvanecia-se em seguida, deixando este ciclo sem fim oculto, como a mera passagem entre a realidade urbana e o Cosmo.
Já se perdia então para mim a Dança, eu, o passante ligeiro, compromissado, a música desvanecendo em sua invisibilidade imaculada, em mim resta agora, depois de divagar livremente nela, apenas este pretexto para o discurso. Permanece agora em mim a busca, mas também, algo a mais na sensação de reviver aquele sentido, ecoando em minha Alma, imanente, e ao rememorá-lo, ainda que de outro modo, percebo o pulsar desse desejo ilusório, tão típico do artista em minha decisão de pintar a Dança para segurar o Céu.
Ficou na memória esse sonho que agora se manifesta nas imagens reorganizadas neste outro Cosmo que é Arte.
Mas sempre há a chance de deixar-se levar pelo vento e dançar com ele neste Céu aberto que nos ampara desde sempre.
Andriole
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